Fitoterápicos para engravidar
Fitoterápicos para engravidar: funcionam mesmo?
Considerados remédios mais naturais, os fitoterápicos são utilizados, muitas vezes, sem a devida recomendação médica – o que pode oferecer riscos. Entenda
Quando uma mulher está tentando engravidar, tem sempre alguém pronto para dar algum conselho (“tem que ficar deitada depois do sexo”, “coma brócolis”, “emagreça” ). E, não raro, até recomendar o uso de algum produto natural que “funciona e não tem perigo”. Ledo engano. Remédios naturais, como os fitoterápicos, devem ser tratados com a mesma cautela que qualquer remédio tradicional.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), fitoterápicos são “medicamentos obtidos empregando-se como princípio ativo exclusivamente derivados de drogas vegetais”. Definições à parte, o importante é ter em mente que, quando usadas de modo indevido ou mal preparadas, essas substâncias, podem, sim, trazer sérios prejuízos à mulher. “Fitoterápicos têm que seguir todas as regras de produção, assim como qualquer outro medicamento: passar pelas fases de registro, de comprovação de resultados e provar que não há efeitos colaterais significativos”, explica a professora do curso de farmácia do Mackenzie (SP) Fátima Maria Motter Magri. Para verificar se o medicamento foi aprovado pela Anvisa, observe se ele tem um número de registro, que tem de 9 a 13 dígitos, sempre começando por 1. Esse código deve ser precedido da sigla MS, de Ministério da Saúde.
Apesar dos riscos, muitas mulheres ainda usam esse tipo de medicamento sem indicação médica. E pior: algumas fazem uso das ditas “garrafadas”, como são chamadas genericamente as misturas de plantas (quase sempre vendidas em garrafas, daí o nome) e preparadas sem nenhum respaldo científico. “Isso é o tipo de coisa feita precariamente sem nenhum controle de qualidade. É perigoso, porque não se sabe ao certo quais plantas estão na composição, como elas reagem entre si e como vão agir no organismo”, completa a professora.
Os mais procurados pelas mulheres
Dentre os fitoterápicos devidamente registrados, dois dos mais populares entre as mulheres que estão tentando engravidar são a água inglesa e a saúde da mulher. O primeiro é preparado à base de uma mistura de essências que têm efeito calmante, como melissa e flor de laranjeira. O segundo é feito a partir da planta agoniada, também conhecida como arapuê ou jasmin-manga, que age sobre o hormônio estrogênio.
Para o médico especialista em reprodução assistida Emerson Cordts, do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim (SP), os fitoterápicos podem ajudar como coadjuvantes quando a mulher tem problemas para engravidar, mas não resolvem o problema. “No caso da indução da ovulação, a coisa é muito mais complexa. Eu posso ter um fitoterápico que melhore as condições gerais da mulher, mas não que atue na ovulação”, explica. Esse seria o caso da água inglesa: por ser relaxante e diminuir a ansiedade, o uso desse fitoterápico pode deixar mais tranquilas as mulheres que estão tentando engravidar. Isso, é claro, facilita o tratamento, mas não corrige a causa da infertilidade.
São muitos os problemas que podem dificultar uma gravidez: de hipotireoidismo a ovário policístico, passando por situações mais graves, como a endometriose. Só um médico pode investigar mais a fundo e descobrir qual é a real causa do problema.
Cordts lembra também que nenhuma sustância natural é capaz de substituir completamente os hormônios: “Todos os medicamentos usados para induzir a ovulação são hormônios e não há fitoterápico que possa assumir essa função”, explica. Ele cita como exemplo clássico o uso da isoflavona, uma substância encontrada na soja, por mulheres que estão fazendo reposição hormonal: “A isoflavona é bem parecida com o estrogênio, mas nunca vai ser igual, porque não tem a mesma característica molecular”, completa. Faz mal? Não. Ajuda? Ajuda. Mas não dá para dizer que substitui.
O principal é lembrar que, antes de usar qualquer remédio, incluindo os fitoterápicos, é indispensável se consultar com um médico.