É possível (e seguro) engravidar após um câncer de mama?
Pesquisa aponta que não há relação entre gravidez e a recorrência dessa doença. Tratamentos de ponta ajudam as pacientes a realizarem o sonho de ser mãe
Muita gente associa as alterações hormonais que ocorrem durante a gestação a um maior risco de um câncer de mama voltar a aparecer. Mas um estudo divulgado recentemente no congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica contraria essa ideia com base na análise de 1 207 pacientes — todas tinham menos de 50 anos e receberam o diagnóstico por volta do ano de 2008.
De lá para cá, 333 delas engravidaram, sendo que, em comparação com as demais voluntárias, não houve diferença significativa quanto ao retorno da doença. E olha que a maioria dos tumores foi classificada como RE-positivo, quando as células cancerosas são receptoras de estrogênio e podem se proliferar em resposta a esse hormônio sexual. Para melhorar, aquelas que sobreviveram ao tipo oposto (RE-negativo) viram o risco de mortalidade despencar em 42% após o teste de gravidez dar positivo.
Ocorre que um dos principais efeitos colaterais de quimioterápicos contra o câncer de mama envolve a redução da reserva de óvulos, o que pode levar à menopausa precoce e à insuficiência ovariana. “Não à toa, mais de 90% das pacientes não conseguem ter filhos naturalmente depois de vencer a doença”, conta o especialista em reprodução humana e oncofertilidade Giuliano Bedoschi, de São Paulo.
A boa notícia é que as técnicas de fertilização artificial ajudam a amenizar mais esse impacto negativo da químio — de novo, sem estimular o câncer. Funciona assim: se possível, logo após o diagnóstico da enfermidade, especialista extraem óvulos da mulher e os congelam. Depois, quando toda essa fase turbulenta tiver passado, os embriões são inseridos no útero. De acordo com Bedoschi, atualmente são usados medicamentos que evitam uma superconcentração de estrogênio durante etapas desse procedimento, tornando-o mais seguro.
Aliás, ele e um time de especialistas de Nova Iorque, nos Estados Unidos, recrutaram 131 mulheres que tiveram câncer com até 41 anos de idade para verificar a efetividade da fertilização artificial. “Metade conseguiu engravidar”, comemora o especialista.
“No entanto, pede-se que o congelamento de óvulos e embriões seja feito antes do início da quimioterapia. A transferência, por sua vez, não deve ser realizada nos primeiros cincos anos que sucedem o fim do tratamento”, pontua Bedoschi. Outra recomendação é buscar o aval de um oncologista, já que há contraindicações — histórico de trombose, casos de hipertensão e quadros de doenças no fígado, por exemplo.
Fonte: Saúde Abril