Como lidar com a mentira
Saber como agir ao flagrar um filho mentindo é decisivo para evitar o afastamento e fortalecer a confiança mútua
Mentir consiste em não dizer a verdade na intenção de enganar. Mas assim como não há apenas uma forma de dizer a verdade, a mentira também apresenta diversas modalidades. Pode-se ocultar a verdade, dissimular a situação, distorcer a realidade, dizer o que não é ou não dizer o que é, aumentar ou diminuir, não fazer ou não pensar o que se diz, prometer o impossível, usar a ambiguidade e tudo o mais que signifique não priorizar a verdade.
A mentira está por toda a parte: na maquiagem, na publicidade, na política, nas tintas do cabelo, na informação, no exagero em contar nossas pequenas façanhas, nos cremes antirrugas, nas estatísticas, etc.
A mentira da infância à adolescência
Mesmo que nos custe, temos que reconhecer que nossos filhos adolescentes já não são “tão crianças”. Eles estão nascendo de novo, despertando para a sua independência, de forma gradual. Às vezes não mentem, mas não nos contam toda a verdade. Por exemplo, nos inteiramos através dos professores, e não dos filhos, que eles aprontaram algo no colégio. Eles consideram que algumas coisas não precisam ser contadas, como pequenos erros e transgressões. Tampouco podemos bancar o fiscal: os filhos ocultam esse tipo de coisa para não se envergonhar ou não nos envergonhar. Mas não precisamos fazer um drama por esses feitos; são apenas erros. Se eles nos contassem antes, com certeza se sentiriam melhor e, sobretudo, teriam reforçado essa confiança mútua tão necessária na família entre pais e filhos.
Consequências da mentira nos adolescentes
Muitas vezes, a verdade nos coloca em apuros, enquanto uma significante mentira nos tira deles com extrema facilidade. É o que ocorre quando um adolescente diz ao seu pai que passará a noite na casa de um amigo em que os pais confiam, quando na verdade vai dormir na casa de outro amigo, que não é do agrado dos seus pais.
A única forma que temos de quantificar a gravidade de uma mentira são as consequências que ela provoca. Algo comum a todas as mentiras é que elas buscam o benefício próprio, exceto aquelas mentiras “piedosas” que usamos para supostamente evitar um dano para os outros, como quando não dizemos toda a verdade a alguém doente.
A mentira é usada para se evadir de responsabilidades ou para evitar castigos, mas os adolescentes geralmente a usam para empregar sua liberdade do jeito que querem e não do jeito que os pais delimitam.
A mentira tem um atrativo especial devido à sua capacidade de mudar a realidade. Esse poder da mentira faz com que existam mitômanos, pessoas que constroem um mundo paralelo sobre as suas próprias falsidades. O abuso da mentira pode nos fazer perder a referência à verdade e trazer consequências psicóticas. Se utilizamos a mentira a torto e a direito, mesmo que sejam sutis, leves ou piedosas, não haverá nada para nos segurar, porque teremos perdido a referência à verdade.
10 conselhos sobre a mentira
- Se o seu filho planeja algo que parece ousado demais para a idade dele, reflita com ele sobre a razão pela qual você acredita que isso não é conveniente. Que ele saiba quais são os seus medos e reservas. Não diga simplesmente “não”.
- Cuide do exemplo que você transmite. Se você diz à sua filha: “Não diga isso ao papai”, querendo que ela oculte algo de seu marido, a estará exercitando na mentira.
- Trabalhe a autoestima. Quanto mais eles não se sintam seguros consigo mesmos, com maior facilidade lançarão mão de mentiras.
- Ressalte o valor atraente da veracidade. Dizer sempre a verdade, ter palavra, faz de nós pessoas nas quais se pode confiar.
- Ensine a ele que a amizade é incompatível com a mentira.
- Nunca o rotule nem o chame de mentiroso. Demonstre confiança, porque estamos seguros de que essa não é a sua forma de ser autêntica, mas sim um incidente passageiro.
- Não maximize o seu erro. Considere cada mentira como uma gafe e convide-o a retificar. Quando ele reconhecer que mentiu, valorize o fato de que tenha reconhecido.
- Dê confiança. Que ele se dê conta de que ganha mais liberdade conforme se pode confiar nele.
- Veja televisão com ele para lhe ensinar a detectar mentiras. Os roteiros de muitas séries são construídos a partir de um mal-entendido ou de uma falta de veracidade que se enreda cada vez mais até não haver outro remédio senão dizer a verdade.
- Castigá-lo ao descobrir uma mentira? Se o castigamos, seu medo se alimenta. É preciso conversar sobre por que ele mentiu, sobre qual é o seu medo. Descobrir uma mentira é uma boa ocasião para começar um diálogo. Não apele ao drama, com frases como “você falhou comigo” ou “eu confiava em você”. Faça-o ver o que teria acontecido se ele tivesse dito a verdade. Faça também com que ele veja que descobrir a mentira foi positivo, porque é uma ocasião para renovar a confiança.
Fonte: www.semprefamilia.com.br