Beleza brasileira

Beleza brasileira

15_11

Em maio deste ano, Sabrina Paiva foi escolhida Miss São Paulo e sua vitória foi muito celebrada. Negra, ostentando um poderoso cabelo afro, a bela fez questão de chamar atenção para a importância da representatividade ao ser coroada. “Quero que as mulheres, as meninas, as crianças negras me vejam e tenham inspiração”, ela disse na ocasião.

A repercussão da vitória de Sabrina nas redes foi imensa, dada a raridade do acontecimento. Até aquele momento, apenas uma negra havia sido coroada Miss Brasil: Deise Nunes, representante do Rio Grande do Sul, na edição de 1986. Sabrina Paiva poderia ser, então, a segunda Miss Brasil negra da história.

Em um País com tanta miscigenação como o Brasil, com uma população negra tão numerosa, não parecia “certo” que apenas uma negra tivesse sido escolhida como embaixadora da beleza da mulher brasileira ao longo de 61 anos. E esse foi nosso ponto de partida para criar o especial Beleza Diversa.

Nós já tínhamos a clara percepção de que aquelas lindas mulheres que eram coroadas misses não representavam, de fato, a beleza das brasileiras, mas queríamos a comprovação em números. Para isso, fizemos um amplo levantamento de dados sobre as misses junto à organização do concurso e, sobre as brasileiras, com dados públicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Todas essas informações foram coletadas e analisadas com cuidado, já que o objetivo era mostrar às leitoras, da maneira mais clara possível, e a partir de dados confiáveis, quais as características primordiais das mulheres brasileiras e quais os principais perfis vencedores desse concurso, tão tradicional e valorizado pela cultura do País. Com essas informações, foi possível observar que as misses são lindas e trabalham duro para chegar até essa posição, mas ainda não representam todas as brasileiras. E o motivo é o mais simples possível: não existe um único tipo de beleza.

Além da questão racial, que já é bastante séria, várias exigências são feitas às candidatas e as afastam ainda mais da realidade da brasileira média. Tem que ser solteira, não pode ter filho, tem que ter, no máximo, 26 anos e medidas de corpo bem distantes da média, por exemplo. Mulheres baixas, peitudas ou gordas não podem nem concorrer – ainda que sejam igualmente lindas.

Usar esse tipo de parâmetro para medir a beleza das mulheres é cruel – e pensar nisso não é fútil. A cobrança por atingir um determinado padrão de beleza impacta o cotidiano das mulheres brasileiras e chega a deixá-las até mesmo doentes. Então, se o Miss Brasil reforça a necessidade de atingir esse padrão, talvez fosse o caso de decretarmos que o ideal mesmo seria não termos mais esses famigerados concursos.

15-11

Ile Machado/Carolina Horita/Camilla Loureiro

Mas, ao longo de toda a investigação para a série de reportagens que fizemos, descobrimos que certos concursos de beleza conseguem dar voz a algumas minorias e podem ser usados como instrumentos de empoderamento para grupos que, antes, não se viam representados. A vitória de Raissa Santana como Miss Brasil 2016 é um ótimo exemplo disso e sua promessa de mostrar que as negras podem tudo é maravilhosa. Afinal, toda mulher tem o direito de se sentir representada e de escolher se quer ou não apoiar ou participar desse tipo de concurso. Assim, o mais importante é a liberdade de escolha e o respeito às diferenças – porque representatividade importa, sim!

Fonte: www.brasilpost.com.br