Metade dos pacientes com doença pulmonar grave tem diagnóstico errado
A falta de conhecimento sobre as enfermidades é um problema para o diagnóstico de doenças pulmonares raras. Os pacientes, com poucas informações sobre sua condição, começam uma peregrinação por hospitais e consultórios médicos, em busca de um diagnóstico preciso. Geralmente, realizam vários exames e fazem acompanhamento com especialistas de diferentes áreas. Todo o processo pode demorar meses – ou até anos – para o paciente conseguir um diagnóstico da doença.
O tempo até o diagnóstico pode ser crucial para o estado de saúde da pessoa, principalmente nos casos de doenças progressivas. Um exemplo é a fibrose pulmonar idiopática (FPI), uma condição rara que pode levar até 2 anos para ser identificada.
A FPI provoca o enrijecimento do tecido pulmonar pela formação progressiva de cicatrizes (fibrose), levando a lesões que geram tosse seca, cansaço e falta de ar, sintomas tidos como simples e comuns a várias outras doenças respiratórias. De acordo com o ranking feito pela OMS das doenças que mais provocam mortes anualmente no mundo, as respiratórias ocupam o terceiro lugar.
Elas costumam ter sintomas parecidos, o que faz com que muitos pacientes ignorem esses sinais e não busquem ajuda médica. No caso da FPI, que atinge pessoas com mais de 50 anos, os sinais podem ser confundidos, pois os pacientes acreditam que a fadiga e a tosse são sintomas naturais do envelhecimento e demoram para buscar ajuda médica.
O pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre (RS), Dr. Adalberto Rubin, explica que inclusive os especialistas podem confundir a fibrose pulmonar idiopática com outras doenças pulmonares e problemas cardiovasculares, como pneumonia e insuficiência cardíaca. Com o objetivo de mudar esse cenário, a farmacêutica Boehringer Ingelheim organiza periodicamente o IPF (Idiopathic Pulmonary Fibrosis) Summit Meeting, evento que reúne especialistas de todo o país e referências internacionais para discussão e atualização das práticas relacionadas à doença. “O desconhecimento da doença por parte dos pacientes e dos profissionais de saúde colabora para a imprecisão da análise médica”, ressalta o especialista, que também é chairman do evento.
Além disso, os pacientes costumam passar por diferentes especialistas e fazer vários exames de avaliação pulmonar ou até mesmo cardíaca. Por todos esses motivos, o Dr. Rubin explica que o diagnóstico da FPI é extremamente complexo e não pode ser concluído com a realização de um único exame. O tempo é um fator importante para os pacientes com FPI, porque a doença pode evoluir rapidamente e pode levar ao óbito dentro de 2 a 3 anos, se não for tratada.
Assim, a integração da equipe médica é fundamental para evitar múltiplas consultas e análises divergentes de profissionais. O trabalho multidisciplinar é uma alternativa para que o diagnóstico seja rápido e assertivo. Além dos pneumologistas, que geralmente são o ponto de contato mais próximo dos pacientes, os radiologistas e patologistas participam das análises de tomografias e outros exames. No dia-a-dia, esses médicos são separados por tempo e espaço. Na tentativa de melhorar a precisão do diagnóstico, é muito importante que os especialistas tenham interação entre si e compartilhem suas opiniões para obter um diagnóstico mais preciso. Um estudo recente mostra que a precisão do diagnóstico clínicos da doença é de cerca de 87,2%, quando feito por equipe especializada e multidisciplinar em centros de referência.
Após o diagnóstico correto de fibrose pulmonar idiopática, o pneumologista é o principal responsável pelo tratamento destes pacientes. “O primeiro medicamento aprovado no país para o tratamento da FPI foi o nintedanibe, que é capaz de reduzir a progressão da doença em 50%”, aponta o Dr. Rubin. Embora a doença seja pulmonar, o tratamento não deve ser limitado às consultas regulares com o pneumologista.
“Além do tratamento medicamentoso contínuo e do acompanhamento médico, o paciente deve ser avaliado por outros profissionais. Os médicos devem ficar atentos às doenças que podem ser desenvolvidas, como refluxo gastroesofágico, hipertensão pulmonar e até depressão”, explica o especialista.
O tratamento da FPI também envolve o acompanhamento psicológico da família e dos cuidadores, que são fundamentais para o suporte do paciente. O maior conhecimento da doença pela população e o treinamento dos profissionais é o primeiro passo para aumentar o diagnóstico precoce.
Fonte: Gazeta Esportiva