A preocupação que salva
Elas são fundamentais para sensibilizar a população masculina sobre a importância da realização dos exames que ajudam a detectar o câncer de próstata
Há homens que arranjam desculpa de todo o tipo para adiar a ida periódica ao médico e fazer os exames de rotina, como aqueles que podem ajudar a detectar precocemente o câncer de próstata – o tumor mais frequente na população masculina no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma. Pelas estatísticas do Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca), a cada hora surgem sete novos casos desse tipo da doença. Ainda assim, para protelar as consultas, os homens geralmente não abrem mão de justificativas, e o pretexto mais comum é a falta de tempo. Um estudo realizado este ano pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostra que 51% dos homens nunca consultaram um urologista.
A tarefa de persuadi-los sobre a importância de valorizar o compromisso com a saúde pode tornar-se menos custosa se as mulheres passarem a perceber que têm um papel fundamental para fazer com que a população masculina comece a valorizar os cuidados com a saúde. Essa é uma mensagem que merece ser reforçada neste Novembro Azul, movimento que incentiva a população masculina a ir ao urologista e não deixar passar a oportunidade de realizar exames que podem diagnosticar o câncer de próstata em fase inicial, quando as chances de cura chegam a 90%.
“Como as mulheres têm o hábito de ir ao ginecologista em várias fases da vida e também ganham a responsabilidade de levar os filhos ao pediatra, elas são mais vigilantes com a saúde. Por isso, têm um poder imenso para convencer os homens de que não vale a pena adiar os exames de rotina”, diz o presidente da SBU-Seccional Pernambuco, Clóvis Fraga. O depoimento do médico ganha força quando são analisadas pesquisas que comprovam como as mulheres são valiosas na empreitada de convencimento dos homens em estabelecer uma rotina de ida ao urologista.
“Organizo toda a rotina de médicos do meu marido, que foi diagnosticado com câncer de próstata numa fase inicial. Quando o cardiologista percebeu alteração no PSA, o encaminhou para o urologista, que logo indicou a cirurgia para retirar o tumor. Dei apoio em todos os momentos ao meu marido, que está muito bem”, conta a dona de casa Vera Lúcia Gonçalves, 61 anos, casada com o industrial Luizandes Barreto, 69.
Um levantamento do Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo mostra que 70% das pessoas do sexo masculino que procuram um consultório médico tiveram a influência da mulher (e também de filhos). A SBU acredita que o percentual de homens que vão a consultas por insistência da companheira ou da família pode chegar a 80%. Esses dados só corroboram a máxima de que elas têm papel valioso para fazer com que eles deixem de lado o medo, a vergonha e o preconceito para encarar um exame rodeado de mitos: o toque retal, que não pode ser substituído pela dosagem do PSA (sigla para antígeno prostático específico, uma substância produzida pelas células da próstata).
“Um exame complementa o outro. Não recomendamos o PSA isoladamente porque ele não é um teste específico para o câncer de próstata”, informa o urologista Leonardo Lima Monteiro, do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP). Ele explica que esse marcador pode estar alterado também quando o homem apresenta aumento de tamanho da próstata e infecções. “Além disso, o PSA pode aumentar após procedimentos urológicos que podem afetar a glândula. Por isso, o toque é essencial para um rastreio completo”, explica o urologista Leonardo Lima Monteiro, do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP).
A recomendação da SBU é que o rastreio seja feito a partir dos 50 anos. Homens negros e com histórico da doença na família devem passar pela investigação cinco anos mais cedo. Para motivar a população masculina a deixar de lado a falta de disciplina quando o assunto é visita ao urologista, a entidade salienta que a realização do toque e do PSA está relacionada à diminuição de cerca de 20% na mortalidade pela doença em estudos de grande porte e longo seguimento. “Hoje observamos uma mudança de comportamento. A maioria dos homens que vem ao consultório não reluta para se submeter ao toque, diferentemente do que observávamos no final da década de 1990, quando os pacientes não admitiam o exame”, destaca Clóvis.
Fonte: jconline.ne10.uol.com.br