Fortalecimento familiar – TEA
A equipe da Clínica Comunicar, a partir da sua vivência terapêutica, resolve implantar o projeto Amor Maior, visa trabalhar com as famílias das crianças diagnosticadas com TEA – Transtorno do Espectro Autista. A família quando recebe um diagnóstico de TEA se coloca diante de uma realidade desconhecida e se depara com os seus preconceitos, com a difícil aceitação, frustração por não saber como lidar com alguns comportamentos no dia a dia, e com o medo.
O projeto Amor Maior tem como objetivo principal o fortalecimento e a união da família de crianças autistas abrindo um espaço para que o profissional possa ouvir mais essa família e buscar entendê-la na sua singularidade, acolhendo esses pais, orientando-os a como lidar com os comportamentos dos seus filhos, objetivando uma adaptação saudável diante da realidade do autismo.
Socorro Ribeiro, proprietária da clínica, ressalta que atualmente o projeto atende cerca de 95 crianças com diagnóstico de TEA e que a Clínica Comunicar oferece um tratamento diferenciado com terapias ofertadas em consultório que têm um papel essencial nos tratamentos desses quadros na modificação de comportamento, resolução de problemas, desenvolvimento de repertório e habilidades sociais e acadêmicas dessas crianças com TEA.
“O meu objetivo sempre foi trabalhar com crianças autistas, mas ao montar a clínica percebi que tínhamos que atender toda demanda e agora, completando 10 anos de existência, temos voltado a atender somente o público autista e desde o início do ano, estamos com o projeto Amor Maior em desenvolvimento”, declarou.
Objetivo é romper o ambiente de clínica
A empresária acredita também que o sucesso dessas terapias não é obtido apenas pela frequência em todas as terapias disponíveis, mas também em conciliar as necessidades dos autistas com as de sua família, e para isso abre esse espaço de acolhida e de socialização com essas famílias, por meio de momentos de lazer que proporcionam um estreitamento na relação clínica –paciente – pais e a implantação do grupo de mães para tirar dúvidas e compartilhar experiências.
Socorro adiantou que vai abrir um centro de reabilitação pioneiro com toda equipe da clínica que é mais um sonho na minha vida. “Eu me sinto realizada quando uma mãe vem agradecer pelo nosso trabalho. E nosso objetivo é fazer com que as crianças enxerguem os terapeutas com um outro olhar e não sintam que estejam em uma clínica, por isso desenvolvemos várias atividades ao longo do ano para promover uma maior interação”, revelou.
Dentre as atividades propostas pela equipe, ressalta-se as festividades já iniciadas fora do consultório como Festa Junina, Dia dos Pais , Dia das Crianças para maior interação social das crianças e pais ou cuidadores.
A clínica dispõe de profissionais qualificados no que existe de mais atual no tratamento do autismo, distribuídos nas seguintes especialidades: 2 psiquiatras infantis, 1 psiquiatra para adultos, 1 neuropediatra, 1 cardiologista, 2 clínicos gerais, 1 pediatra, 1 ginecologista, 10 psicólogos, 7 fonoaudiólogos, 2 terapeutas ocupacionais e 2 psicopedagogas.
Atividades têm olhar multidisciplinar
A terapeuta ocupacional Leila Mendes revela que o projeto trabalha com um olhar multidisciplinar, com uma equipe formada por 30 profissionais e trabalha com a linha de cuidado entre criança, família e na inclusão social, enxergando a criança dentro do ambiente residencial, escolar e clínico.
“A gente trabalha com orientação com quem está mais próximo da criança, visando a independência e autonomia desses pacientes. Nós temos uma preocupação com o retorno para os pais, dentro do meu atendimento, sempre dou a devolutiva para os pais”, destacou. A profissional acrescenta que estão sendo avaliados vídeos dos comportamentos dessas crianças em casa para analisar de forma mais ampla essas condutas.
Com relação à área psicopedagógica, a especialista Yloma Rocha, afirma que é feita uma avaliação na clínica para identificar quais são as demandas para serem trabalhadas, mas não tem como fugir do espaço escolar, por isso é feita uma visita nas escolas antes de iniciar alguma intervenção com as crianças. É realizada uma entrevista com os professores, já que a psicopedagogia tem como objeto de estudo a aprendizagem. A escola acaba se tornando o carro-chefe para essas intervenções.
“O estímulo com os autistas tem que ser contínuo, alguns teóricos defendem que esses estímulos devem ser de até 40 horas semanais, então a gente passa as demandas para os pais e a escola tem que ter esse aparato e um link junto com o nosso serviço”, destacou. A psicopedagoga enfatizou que os profissionais do projeto dão suporte para essas crianças, mas a escola é que possui maior subsídio, pois fica com esses meninos e meninas por mais tempo.
Yloma Rocha frisa que quando a escola colabora e dá um retorno, os resultados no consultório são muito positivos. “Como defendemos essa inclusão desses pacientes, não existe mais essas questões de salas especiais, o que nós temos nas escolas é o chamado Atendimento Educacional Especializado – AEE, então eles têm que ser inclusos na sala de aula e nas atividades da escola. Tem que haver uma interdisciplinaridade e ter conosco uma abertura de diálogo”, declarou.
A fonoaudióloga Sinoara Guimarães, esclarece que é feito um trabalho de fala e linguagem atrasada e a parte comportamental. “Começamos a trabalhar os primeiros sons, que são os fonemas, para poder adaptar palavras e depois vamos acrescentando de acordo com a necessidade da criança, priorizando a sua independência para formar uma comunicação e um diálogo”, disse a profissional, em relação à colaboração da fonoaudiologia no projeto.
Pais fazem parte do acompanhamento
A psicóloga Vanessa Rocha é responsável por dar apoio emocional aos pais dessas crianças e defende que é de extrema importância como evolutiva e para o desenvolvimento dessas crianças, que a família aceite esse diagnóstico e que faça parte desse processo terapêutico. E mais do que isso, é preciso que a família se desapegue da preocupação de ficar se penitenciando, ou mesmo buscando um culpado para a situação, porque o futuro destas crianças está relacionado não somente aos aspectos individuais, mas também a outros fatores que extrapolam a capacidade da família de controlá-los totalmente.
Ela explica que no momento da entrevista, no primeiro contato com as crianças, já é detectada a necessidade da escuta desse pai e, de acordo com o diagnóstico e a demanda dessa criança, é passado o atendimento aos pais, onde é feita orientação e acompanhamento. “Nós sentamos com os terapeutas que estão acompanhando aquela criança, tentando trabalhar essa abordagem e essa dificuldade dentro de casa, principalmente com a questão da aceitação. Aceitar que essa criança precisa dessa intervenção, que é semanal, fora o contato social que alguns pais acabam limitando. O nosso foco é direcionado a essas dificuldades”, esclarece. (W.B.)
Projeto ajuda pais a superar dificuldade de aceitação
A policial militar Carla Geovana conta que não estava preparada para receber o diagnóstico de que seu filho, Guilherme Henrique, de 3 anos, tinha TEA e que no início foi bastante complicado aceitar e entender a patologia do filho. Ela lembra que chegou a se culpar, mas a partir do acompanhamento do projeto, passou a fazer sessões no psicólogo e psiquiatra e pode entender melhor a condição e ajudar o filho.
Com um ano de tratamento, Carla ressalta a evolução do filho ao longo desses meses. “Nós acreditávamos que ele fosse hiperativo e tinha muita dificuldade de dormir e a fala comprometida até que fomos surpreendidos com o diagnóstico de autismo, sofri bastante, mas graças a Deus já superamos isso e estamos na luta junto com ele para ajudá-lo”, disse.
A mãe lembra que antes o filho só falava algumas palavras e agora já consegue formular pequenas frases, identifica cores, números e animais e tem tido um bom progresso a partir das intervenções realizadas dentro do projeto. “Aqui dentro acontece uma soma de valores que levam ao bom desenvolvimento das nossas crianças”, avaliou. (W.B.)
Fonte: jornal.meionorte.com