Autoestima elevada contra o câncer
Durante os 15 anos que conviveu com prótese de silicone, a ex-modelo catarinense Flávia Flores fazia ultrassonografia regularmente, para saber quando deveria substituí-la. Até que um caroço, descoberto durante o banho e não detectado no exame, transformaria o rumo e a motivação da vida dela. Na época, o cirurgião plástico optou por fazer a biópsia junto com a troca da prótese, que só aconteceu 4 meses depois, em outubro de 2012. Flávia, então com 35 anos, saiu da consulta pós-operatória com um diagnóstico de câncer e a certeza da mastectomia.
“Embora perder a mama e os cabelos seja extremamente doloroso, para mim, a notícia foi o momento mais chocante desse processo”, diz ela. No mês seguinte, Flávia voltou à sala de cirurgia para a retirada e a reconstrução das duas mamas, depois de nove horas de operação.
Uma batalha havia sido vencida – nem sempre é possível reconstruir as duas mamas imediatamente –, mas exatos 14 dias depois da primeira sessão de quimioterapia, Flávia não escapou da queda de cabelo, do inchaço e da falta de viço na pele decorrentes do tratamento. “Comecei a procurar na internet conteúdo de beleza para pacientes de câncer, mas não havia nada”, lembra.
Então, ela decidiu criar um blog, o “Quimioterapia e Beleza”, para dar dicas de amarrações de lenços, maquiagem e colocação de perucas e cílios postiços, por exemplo. “Fui chamada de fútil por pessoas que não tinham câncer e que diziam que não havia beleza naquela situação”.
Para a surpresa de Flávia, outras pacientes buscavam esse tipo de conteúdo, o que culminou no sucesso do site (hoje hospedado no portal M de Mulher e com 1 milhão de visualizações mensais) e na publicação do livro “Quimioterapia e Beleza” (Geração Editorial), que já está na terceira edição e foi lançado em Portugal.
Próteses
Mulheres que, ao contrário de Flávia, não puderam fazer reconstrução mamária podem recorrer a próteses externas móveis, como as confeccionadas com polietileno pela equipe de voluntárias da Associação Sempre Viva, de Catanduva, no interior paulista.
A instituição, presidida por Sônia Ceneviva, que também passou pela mastectomia, já distribuiu gratuitamente mais de 17 mil próteses em hospitais e ONGs espalhados por São Paulo. “Recuperar a autoestima dessas mulheres, que muitas vezes deixam de usar blusas e vestidos que gostam, deixa o tratamento mais suave”, diz Sônia.
Além das próteses, a associação oferece ainda atendimento psicológico e fisioterápico gratuito. A sede própria deve começar a ser erguida ainda este ano, e a ideia é produzir próteses com sutiãs acoplados, mais práticas. “Você pode perder as mamas e os cabelos, mas jamais deve perder a autoestima”, diz Flávia Flores.
Alto astral ajuda a enfrentar tratamento
Não há pesquisas científicas que relacionem a autoestima e o cuidado com a aparência ao sucesso do tratamento de câncer. No entanto, há um consenso de que o astral da paciente interfere na forma como ela adere aos efeitos colaterais causados por quimioterapia e radioterapia.
“A autoestima costuma gerar maior tolerância aos desconfortos do tratamento, o que resulta em mais bem-estar”, diz Edison Pedrinha de Almeida, ginecologista e obstetra Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo. Para Laura Testa, oncologista e coordenadora do programa de residência médica em Oncologia do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), a disposição da paciente muitas vezes é identificada logo na chegada ao consultório. “Quando ela está maquiada, ou mesmo de batom, é que quase certo de que está em um dia melhor”, diz a médica.
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Fonte: www.metrojornal.com.br