Qualidade de vida durante a menopausa
Mulheres passam por oscilações hormonais desde a adolescência. Essas mudanças podem refletir no comportamento de cada uma e são encaradas de diferentes maneiras, dependendo da forma em que os efeitos colaterais são sentidos. A menstruação marca o início da puberdade, quando as transformações começam a ser visíveis nos corpos das adolescentes, além do despertar para a sexualidade. Mais tarde, a gravidez também provoca profundas alterações, tanto físicas quanto emocionais e lidar com estas variações é um dos principais desafios de qualquer mulher que esteja esperando um bebê. Com o passar dos anos, as mulheres chegam a uma fase bastante delicada, cercada de mitos e preconceitos – a menopausa.
Temida por algumas e tratada com serenidade por poucas, a menopausa ainda é um tabu. O incômodo em falar sobre o assunto pode ser prejudicial à saúde, uma vez que essa transformação no organismo feminino pode gerar desconfortos, e aumentar a possibilidade de aparecimento e agravamento de doenças. Nessa fase, a vulnerabilidade feminina é maior aos sintomas físicos e psíquicos. Apenas 25% das mulheres brasileiras passam por esse período sem alguma queixa. Terezinha Souza não foi uma delas. Ela sempre cuidou da casa, dos filhos e do marido; mas aos 42 anos de idade teve uma reviravolta na rotina e precisou ser cuidada, quando os sintomas da menopausa começaram a aparecer. “Sentia taquicardia, de repente começava uma ‘batedeira’ sem saber o porquê. O calor também era forte, começava na cintura e ia subindo. Eu ficava muito irritada e chorava por tudo, meu marido me perguntava por que eu estava chorando assistindo TV e eu apenas respondia ‘não sei’”, relata a dona de casa que hoje tem 51 anos.
A ginecologista Margareth Giglio, do Hospital Materno Infantil (HMI), explica que todos esses sintomas acontecem devido às mudanças hormonais. “Quando a mulher para de menstruar significa que os ovários deixaram de produzir o estrogênio. Assim, ela passa para um estado de privação desses hormônios, o que irá afetar todo o seu organismo”, conta. Margareth ainda elucida que, também nesse período, a mulher passa a ter maior predisposição a patologias mais perigosas. Doenças cardiovasculares; aumento de peso e, por consequência, obesidade e diabetes; transtornos de humor, em especial a depressão; além de atrofia dos órgãos genitais, facilitando infecções urinárias e genitais, que incluem DST e até Aids.
A Terapia de Reposição Hormonal (TRH), oferecida nos ambulatórios de ginecologia geral do HMI, é a opção mais indicada para mulheres que perdem a qualidade de vida com as ondas intensas de calor, sudorese noturna, secura vaginal, insônia, entre outros, consequência da deficiência do estrogênio na menopausa. Entretanto, para isso, é necessário fazer um estudo histórico da saúde da paciente e verificar se há tendência de câncer de mama e de endométrio, trombose, miomas uterinos, endometriose, colelitíase e doenças cardiovasculares; nesses casos, são indicados tratamentos alternativos ao hormonal.
Para Terezinha, a adaptação aos hormônios foi um processo gradativo. “Comecei com compostos à base de soja, funcionou por três ou quatro anos, mas depois os incômodos voltaram. Então, passei a fazer reposição hormonal artificial, alguns me fizeram mal, senti dor nas pernas, dor de cabeça, insônia. Levou um tempo até eu conseguir encontrar o que era melhor para mim”, explica a dona de casa.
Alternativas
Tratando-se de medicina, a ciência não é exata. Para a arquiteta e urbanista Suny Vieira Melo, os hormônios artificiais não foram suficientes para aliviar todos os sintomas. A arquiteta começou a perceber os sinais aos 47 anos de idade e, desde o início, entendeu que precisava trabalhar corpo e mente para conseguir voltar à vida ativa e prazerosa que sempre teve.
“Fiquei muito abalada, foi a ioga que me ajudou nos momentos mais críticos. Nessa fase, o desequilíbrio emocional é muito grande. Só por meio da prática milenar que consegui acalmar minha mente, reencontrar o equilíbrio, além de aliviar os calores”, explica Suny, agora com 48 anos de idade.
O desespero da arquiteta diante da situação foi grande devido à pouca informação que tinha sobre o assunto. Para ela, a menopausa sempre foi sinônimo de envelhecimento e entender que, apesar das mudanças do organismo, seu espírito jovem era o mesmo, foi o maior desafio enfrentado. “O apoio do meu marido foi fundamental. Era ele quem me alertava a todo momento que eu precisava ter paciência, pois a menopausa não era o fim do mundo”, lembra.
Cada mulher tem um tratamento clínico apropriado e individualizado. Portanto, a terapia hormonal é um dos diferentes recursos indicados. Em situações em que a mulher se encontra contraindicada ao uso de hormônios, o processo de estabilização do corpo e mente pode ser feito com foco nos sintomas especificamente sentidos. No caso dos fogachos – ondas de calor -, principal queixa, há medicamentos na classe dos antidepressivos que podem proporcionar alívio.
Alongamento, musculação, meditação e exercícios físicos, de forma geral, podem também ajudar no alívio dos sintomas, além de serem essenciais para o bem-estar e ao controle dietético e do peso. Na rotina de Suny, o esporte sempre teve lugar, mas desde que se viu com hormônios alterados, a arquiteta, mesmo com a rotina de trabalho agitada, precisou intensificar a prática dos exercícios. Duas vezes na semana ela frequenta a ioga, outras duas vezes vai à academia para musculação e um dia na semana é dedicado à corrida, além do lazer que também envolve o movimento do corpo, como natação e passeios de bicicleta.
Para a alteração de humor, é indicado acompanhamento com o psicólogo e até mesmo com o psiquiatra, que pode indicar alguma medicação específica para solucionar este tipo de queixa, também comum na menopausa. Para ajudar a solucionar problemas de insônia, o ideal é evitar perturbadores do sono, como ruídos, álcool, cafeínas, refrigerantes, claridade na hora de dormir e é indicado, principalmente, não praticar atividades que possam estimular a agitação antes de dormir.
A secura vaginal é outra queixa comum nos consultórios. Nesse caso, a indicação dos ginecologistas é o uso de lubrificantes durante a relação sexual; além de hidratantes vaginais, que melhoram a condição da mucosa vaginal se o uso for contínuo, normalmente duas vezes por semana.
Aspectos psicológicos e culturais
É constatado que a obsessão pelo retorno à juventude é maléfica à saúde e atinge, negativamente, o processo de envelhecimento, natural de todos os seres vivos. Nas sociedades orientais, onde a trajetória de vida da mulher é respeitada e a expectativa de envelhecer é encarada de forma positiva, os sintomas tanto físicos quanto psíquicos da menopausa são menos intensos.
Já a mulher ocidental sofre com a busca pela juventude eterna. Ao longo de anos de luta pela liberdade feminina, a mulher vem adquirindo direitos e acumulando funções que mudaram seu papel na sociedade. Contudo, em meio a importantes conquistas, muitas ainda se veem presas a um inatingível padrão de beleza difundido principalmente pela mídia e indústria da moda, o qual envelhecer não faz parte do processo.
Este preconceito infundado em relação ao envelhecimento da mulher ocidental também afeta diretamente o organismo das mesmas. Portanto, alguns médicos incluem no tratamento da menopausa a família dessas mulheres que passam por esse período, por entenderem que as relações familiares pesam muito na gênese das alterações comportamentais dessa fase.
Mudanças de hábitos
Há alguns anos, os passeios de motocicleta passaram a fazer parte da rotina de Terezinha Souza. O marido, fã de motos, apresentou-lhe as vantagens de fazer viagens sobre duas rodas e desde então os companheiros têm se aventurado pelas rodovias de Goiás. Contudo, a ambição é ainda maior que as quilometragens rodadas pelo Estado. O próximo desejo é conhecer as estradas do estado do Rio Grande do Norte e do Rio de Janeiro na garupa da moto. Priorizar o lazer com o marido, agora que os filhos já estão na faculdade, é uma realidade de Terezinha que a ajudou a enxergar as vantagens que a idade lhe proporcionou. “Agora eu quero é curtir a vida”, diz.
A ginecologista Margareth Giglio reafirma que momentos de prazer ajudam a lidar melhor com a fase. “Este é o período que a mulher precisa colocar a qualidade de vida em primeiro lugar, a dica fundamental é manter a vida produtiva e ativa”, explica. Para quem se cuida desde cedo, ao chegar à menopausa, os sintomas poderão ser amenizados, podendo até passar despercebidos. Além disso, a menopausa é o único período que proporciona à mulher liberdade sexual sem riscos de gravidez, sendo assim, o sexo pode se tornar mais prazeroso e sem preocupações. Margareth ainda atenta para a importância de manter os exames médicos em dia, como glicemia, colesterol, bem como mamografias e exames ginecológicos.
*Assessoria de Comunicação do HMI
*Fotos: HMI
Fonte: www.goiasagora.go.gov.br