Mutilação genital na Etiópia

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Mutilação genital na Etiópia

Estes homens entraram na batalha para erradicar a mutilação genital na Etiópia

“Se algum dia eu tiver uma filha, não permitirei a MGF [Mutilação Genital Feminina]. Queria apenas que minha esposa tivesse sido poupada.”

Em uma comunidade na Etiópia, onde a mutilação genital feminina era amplamente praticada e aceita, alguns poucos homens se posicionaram para ajudar a acabar com a prática.

Há três anos, líderes comunitários em Sidama, uma área no sudoeste da Etiópia, começaram a organizar grupos de discussão sobre os danos causados pela prática da MGF (Mutilação Genital Feminina), como parte do projeto de bem-estar infantil da organização britânica Plan International, que atua em mais 70 países.

“No começo, as pessoas tinham vergonha de falar sobre isso”, disse Matewos Kekebo, um dos líderes da comunidade, em depoimento à Plan International. “[Mas] falávamos em cultos de igrejas, cerimônias de café [ritual típico na Etiópia], […] convidávamos circuncidadores tradicionais para participar. […] O último caso de MGF na comunidade aconteceu há mais de um ano.”

A MGF é a remoção parcial ou total dos órgãos genitais femininos externos, e é considerada uma violação dos direitos das crianças pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Pelo menos 200 milhões de meninas e mulheres no mundo todo foram submetidas à MGF, de acordo com um relatório do Unicef. Mais da metade delas mora em apenas três países — um deles é a Etiópia.

Abaixo, estes homens compartilham por que decidiram se posicionar para acabar com a MGF:

Por minha irmãzinha

MEERI KOUTANIEMI

“Às vezes, é estranho falar sobre MGF sendo garoto. Mas criei coragem. Se eu e outros garotos ficarmos em silêncio, nossas irmãs e amigas morrerão. Meus pais começaram a me ouvir. O circuncidador de nosso vilarejo realizou a MGF nas minhas irmãs mais velhas. Uma delas teve um parto tão difícil que quase morreu. Eles prometeram que minha irmãzinha não será submetida à MGF.” — Alemayehu, 14 anos, estudante.


 

Por minhas Filhas

MEERI KOUTANIEMI

“Quando o projeto da Plan International foi lançado em nosso vilarejo, éramos contra o questionamento de nossas tradições. Mas, logo depois, comecei a perceber que muitas de nossas tradições — MGF, casamento infantil, punição corporal de crianças e poligamia — não são boas. Minha esposa foi submetida à MGF quando nasceu.

Às vezes, é difícil para ela fazer o trabalho doméstico. Ela não se interessa muito por sexo e não tem muitas sensações durante o ato.

Se eu soubesse das consequências da MGF, não teria deixado que isso acontecesse às minhas filhas — Abebe Dona, 45 anos, líder do vilarejo.


 

Por minhas Netas

MEERI KOUTANIEMI

“Tenho três meninas, que foram todas cortadas aos 12. Já dava como certo que minha filhas seriam cortadas — de outra forma nossa comunidade teria virado as costas para elas.

Quando o projeto da Plan International veio até nosso vilarejo, fui contra. Não era agradável que pessoas viessem ao nosso vilarejo e dissessem que nossas tradições eram prejudiciais.

Pouco a pouco, comecei a mudar de ideia e comecei a ouvir histórias da vida real sobre as consequências da MGF. Agora sou avô de três garotinhas, não aceitarei que sejam submetidas à MGF.”— Shalamo Shanana, 65, agricultor


 

Por minha Esposa

MEERI KOUTANIEMI

agricultor e professor Matewos Kekebo está liderando a batalha contra a MGF em sua comunidade.

“Casei-me com uma garota que havia sido submetida à MGF. Presenciei o quão dolorosos os partos e a menstruação foram para ela. Depois do segundo parto, minha esposa teve uma infecção no útero como consequência da MGF, disse o médico.

“Se algum dia eu tiver uma filha, não permitirei a MGF. Queria apenas que o projeto tivesse vindo para nosso vilarejo antes, assim minha esposa poderia ter sido poupada da MGF.”— Matewos Kekebo, 26 anos, agricultor e professor.


 

Por minha Irmã mais velha

MEERI KOUTANIEMI

“Minha irmã mais velha morreu durante o parto, quando tinha 21 anos. O médico disse que foi por causa da MGF. Devido às cicatrizes, o bebê não conseguia passar e minha irmã teve várias rupturas e sangramento.

O bebê não sobreviveu. Foi quando meus pais decidiram que não submeteriam minha outra irmã à MGF.

Eu não teria perdido minha irmã se as pessoas em nosso vilarejo tivessem sido melhor informadas sobre as consequências prejudiciais da MGF.”— Birhanu, 15 anos, estudante


 

Por minhas alunas

MEERI KOUTANIEMI

“Nossa escola oferece informações sobre os perigos da MGF. Antes, a maioria das garotas não ia à escola por um longo período na época do procedimento da MGF. Depois disso, passavam a faltar ainda mais.

Apoiei a criação do Uncut Girls’ Club (Clube das Garotas Não Cortadas) em nossa escola. Os integrantes discutem a MGF, casamento precoce e outras práticas prejudiciais. Eles divulgam as informações em nossas comunidades também. Tem realmente feito diferença.

Os garotos em nossa escola aderiram [à causa] e anunciaram que irão se casar com uma garota que não tenha sido cortada.” — Kebebe Muntasha, 38 anos, diretor

Fonte: www.brasilpost.com.br/2016/03/30/homens-batalha-contra-mutilacao-genital