Feminicídio no Paquistão
‘A Girl In The River’, sobre feminicídio no Paquistão, vence Oscar de Melhor Documentário de Curta-metragem
Saba Qaiser sofreu uma tentativa de homícidio.
O assassino? Seu próprio pai.
Ela foi amarrada, colocada dentro de uma sacola e jogada em um rio.
Mas sobreviveu.
E é essa a história que a documentarista paquistanesa Sharmeen Obaid-Chinoy conta em A Girl in the River: The Price of Forgiveness (Uma Jovem no Rio: O Preço do Perdão, em tradução livre), vencedor da estatueta do Oscar 2016 na categoria Melhor Documentário de Curta-metragem.
Saba Qaiser, uma paquistanesa de 18 anos, se casou em 2014 com o homem que amava, mas a sua família não concordava com a união, e ela sofreu as consequências.
Sharmeen Obaid-Chinoy resolveu contar a história de Saba, que reflete uma triste realidade do sul da Ásia.
Lá o feminicídio é bastante comum.
A “morte por honra”, crime que é cometido quando um membro da família, quase sempre o homem, considera que sua moral foi atingida, é a causa de morte de pelo menos mil paquistanesas por ano.
A documentarista, então, tomou para si a difícil tarefa de problematizar este tipo de violência — que é naturalizada no país — e contar a história sob a perspectiva de uma sobrevivente, diferente do que fazem os jornais locais.
E fez isso muito bem.
A repercussão do filme foi tão positiva que provocou discussões no Paquistão — o que levou o primeiro ministro, Nawaz Sharif, prometer medidas que ajudem a combater esse tipo de crime.
Parte dos dado alarmantes se deve a lei frágil e à cultura que permite a impunidade e o perdão dos autores de “mortes por honra”.
Se um pai mata uma filha, por exemplo, sua esposa, ou outro parente, pode perdoá-lo.
Assim, o autor do crime sai impune.
Em seu discurso de agradecimento, a diretora realçou a importância do empoderamento das mulheres e do impacto que o seu documentário pode criar.
“É isso que acontece quando mulheres determinadas se unem. Na semana passada, o primeiro ministro do Paquistão afirmou que a lei será modificada. É esse o poder dos filmes.”
Esta foi a segunda indicação e a segunda vitória de Sharmeen Obaid-Chinoy. Em 2012, a documentarista foi premiada pelo filme Saving Face, no qual denunciou os ataques violentos à mulheres com o uso de ácido.
Fonte: www.brasilpost.com.br/2016/02/29/feminicidio-oscar_n_9345216.html?ncid=tweetlnkbrhpmg00000002