Suely Reichmann Muller
Quando me pediram para dar depoimento no mês em que lembramos o combate ao câncer de mama no Outubro Rosa, fiquei apreensiva sobre como transmitir todos os sentimentos conflitantes que passaram por minha mente na época em que descobri o câncer.
No dia a dia, com a correria da nossa rotina, não pensamos muito em nossa saúde. Tenho uma vida saudável, nunca fumei e sempre pratiquei muita atividade física. Faço todos os exames, pelo menos uma vez ao ano. Desta forma, quando em um exame de rotina foi detectado um nódulo em uma das mamas, a princípio não me preocupei. Porém, com a constatação de malignidade, fiquei surpresa, pois jamais pensei que poderia acontecer comigo.
O primeiro momento foi de reflexão, fiz um balanço de minha vida e pude ver o quanto eu era abençoada. Descobrir o nódulo no início, ter tratamento e poder fazer a cirurgia com a reconstrução da mama, me deu forças para enfrentar um ano difícil que viria pela frente.
Eu tinha duas opções, me deixar abater pelo câncer ou viver plenamente aquele ano, pois sei que tudo tem dois lados, o bom e ruim, só depende da perspectiva que a gente olha e percebe. Mesmo em algum momento difícil, podemos escolher e descobrir muitas coisas positivas.
Assim, decidi que queria continuar a viver minha vida; fiz a cirurgia com a reconstrução da mama. Após um mês, iniciei o tratamento de quimioterapia, recebendo uma aplicação a cada 28 dias durante oito meses.
Percebi que só na semana da quimioterapia me sentia extremamente frágil, literalmente sem forças, mas que no restante do mês poderia ter uma vida normal. Então, continuei com minha rotina e acredito que manter a normalidade durante este período, foi o que me deu sustentação e tranquilidade durante todo o tratamento.
Normalmente vivemos sem nos preocuparmos em observar, ver, escutar, sentir e perceber pequenos detalhes que podem fazer grande diferença. Quando, por alguma razão, a vida nos faz parar e temos um divisor de águas, podemos ser marcadas de forma positiva ou negativa. A nossa percepção fica mais sensível e foi neste momento que descobri muitas coisas positivas ao meu redor.
Senti o amor das pessoas e a preocupação com o meu bem-estar e percebi como sou importante para cada um.
Nós mulheres sempre estamos prontas para cuidar de nossos filhos, maridos, parentes e amigos. Sentimo-nos superpoderosas e normalmente não deixamos muito espaço para outros. Sentir-se vulnerável e precisar de cuidados foi um aprendizado, pois percebi o quanto é difícil depender dos outros e ao mesmo tempo dar espaço para que as pessoas tenham o prazer de poder ajudar.
Com certeza foram momentos que marcaram, mas nada é mais gratificante do que poder retomar a vida, tendo a certeza de que sou uma pessoa abençoada, por mais difícil que seja o caminho, não perderei a fé de que Deus está comigo, guiando os meus passos de forma tranquila e harmoniosa.
Suely Reichmann Muller