Joana D’Arc Thibau
Em outubro de 2013, eu estava em uma palestra, no hospital onde trabalho (Hospital Madre Teresa), sobre o câncer de mama e a importância do diagnóstico precoce. Até aquele dia eu pensava que coisas como essa aconteciam somente com as outras pessoas, mas nunca comigo. Afinal, não tenho casos em minha família. Contudo, a partir dali eu passei a observar mais esta parte do meu corpo a qual foi tão abordada nas conferências do Consciência Rosa/2015.
Percebi que constantemente sentia umas “alfinetadas”, mas ainda assim pensei que fosse normal, porém, elas estavam ficando cada dia mais frequentes. De repente, notei um endurecimento na mama, mas não estava muito diferente da outra e mais uma vez achei que não fosse nada.
Já no mês de janeiro de 2014, senti uma “placa” que estava a pelo menos dois dedos acima da auréola e alguns centímetros abaixo dela, apesar disso, não imaginava o pior. Pensei em uma calcificação qualquer, menos no fantasma do câncer. Também percebi que aquele mamilo estava retraído e o outro não.
Como não desconfiava de nada, procurei primeiro minha ginecologista que, por sua vez, me encaminhou a um mastologista.
Enfim, realizei todos os exames solicitados, e foi meu marido quem teve o primeiro acesso ao laudo imuno-histoquímico (punção com agulha grossa), porém, não teve coragem de me contar e solicitou ao médico que tivesse cuidado ao me dar a notícia para que eu não sofresse muito.
Fui diagnosticada com neoplasia mamária. Perguntei, firmemente, ao doutor: “Tem cura? Ainda há tempo para mim?” Depois da resposta afirmativa, questionei logo o que precisaria fazer para me livrar deste mal. Ele me explicou sobre a quimioterapia, queda dos cabelos e todos os pelos do corpo. Respirei fundo e disse-lhe que faria tudo o que me fosse solicitado.
Desde então, passei a enxergar a quimioterapia como a cura! Afinal, era ela que iniciaria uma guerra contra as células cancerígenas, embora também tivesse o poder de exterminar as células boas. Como uma boa guerreira, eu estava preparada para batalha porvir, pois determinei em meu coração que a minha fé se elevaria ainda mais e que DEUS me conduziria à vitória.
Concentrei-me nesta fé inabalável no SENHOR e segui em frente. Meu marido, Júlio, ficava abismado com minha alegria de viver, sempre sorrindo, mesmo nas adversidades.
Além dessa minha confiança em Deus, meu noivo (ainda não havíamos casado na época) foi um companheirão que, mesmo arrasado com a notícia, resolveu me acompanhar nesta certeza de que tudo acabaria bem. Minha família levou um susto, mas todos se uniram em uma corrente de oração em prol da minha vida. Vai aqui uma dica aos familiares de mulheres com câncer: se não conseguir se expressar, não conseguir que as palavras certas lhe venham à boca, dê um abraço, um batom, um blush, ensine uma amarração com o lenço, faça isso para a pessoa que estiver enfrentando essa situação e lhe garanto que ela ficará muito feliz. Nada de expressões como: “coitada”, “não merecia passar por isso” etc., pois elas trazem desânimo a qualquer um. E é óbvio que ninguém merece esta doença!
Para reduzir os 10 centímetros de tumor, me submeti a 16 sessões de quimioterapia, cirurgia e, posteriormente, 30 sessões de radioterapia.
Dezessete dias após a primeira sessão de quimioterapia, meus cabelos começaram a cair aos montes. Na segunda aplicação já tinha perdido a metade dele e, na terceira, fiquei apenas com penugens. Eu brincava com isso dizendo, um dia, que era o “palhaço Carequinha”, no outro, o “Smeagol“, do filme “Senhor dos Anéis“, e após perder todos os pelos do corpo, me sentia uma lagartixa sem as sobrancelhas e cílios. Contudo uma boa maquiagem conseguia disfarçar tudo isso. Eu não queria assustar ninguém com minha nova aparência.
Senti náuseas, tonturas e fome, muuuita fome. Comia o que dava vontade (pipoca, laranja com sal, biscoito de polvilho com catchup, sorvete, limão na comida, pão com ovo etc.) e não forçava o que não conseguia ingerir, para poder amenizar a náusea. As sessões de quimioterapia foram finalizadas em 10 de outubro de 2014. Contudo, precisarei continuar tomando o Herceptin (anticorpo monoclonal que age diretamente sobre as células que provocam o câncer poupando as outras que estão sadias) até janeiro de 2016, depois de um ano deste tratamento. Após 3 meses sem quimioterapia, meus cabelinhos começaram a crescer!
Minha cirurgia ficou agendada para 05 de janeiro de 2015 e, um dia antes, ao me deitar, fiz uma oração:
“DEUS, até aqui o Senhor tem me sustentado e sabe que meu coração não se alegra de ficar sem a mama. Mesmo que implantem uma prótese, ela não se compara a TUDO o que o Senhor criou. Mas que a Sua vontade prevaleça acima de tudo. Se o Senhor não quiser que essa cirurgia seja realizada, no último minuto, por favor, interrompa o processo para a glória do Seu nome!”
Neste mesmo dia o meu marido, na volta para casa, orou e chegou chorando porque havia pedindo a DEUS por nossa família, amigos, e por si próprio, para que nos tranquilizasse para o dia seguinte e aí uma joaninha pousou nele! Ele entendeu que era uma resposta de DEUS, do tipo: “Estou te ouvindo, estou contigo!” A “coincidência” está no fato de meu nome ser Joana e de eu amar joaninhas! Foi emocionante! Choramos juntos.
O médico havia me pedido para chegar às 7h30 em uma clínica para fazer o exame de linfonodo sentinela (um líquido azul que vai destacar o linfonodo a ser retirado). Ele havia informado que, embora tenha feito a quimioterapia, seria necessário uma mastectomia e a retirada de alguns linfonodos sem o esvaziamento axilar. Fiquei triste, mas tentei me convencer de que me daria bem com uma prótese, embora não estivesse tão segura disso porque ainda teria a radioterapia que poderia causar um ressecamento de pele e também da prótese (que poderia se romper).
Quando já estava tudo certo para a cirurgia de mastectomia, o Júlio recebeu uma ligação. Era a secretária de um médico, com o qual o Júlio marcara consulta sem o meu conhecimento. Ela dizia que minha consulta (marcada para 3 dias depois da cirurgia) poderia ocorrer naquele momento. Não entendi nada, mas meu marido prontamente se dirigiu comigo para a clínica, pois críamos que era DEUS atendendo ao nosso clamor daquela semana para que a vontade dele prevalecesse.
Este outro médico me avaliou, olhou meus exames recentes, disse que eu era muito jovem para uma mastectomia e que acreditava que esta não era a melhor forma de se livrar do câncer. O procedimento indicado seria o esvaziamento axilar (retirada dos gânglios linfáticos da axila), pois, retirando a mama não evitaria que o câncer voltasse a se instalar. Se assim fosse, seria só retirar a mama de todas as mulheres do mundo e esse câncer deixaria de existir.
Fiquei paralisada, faltavam alguns minutos para a cirurgia e então, decidi o que estava sentindo em meu coração. Cancelei a cirurgia e comecei um acompanhamento com este outro mastologista.
No mês seguinte, ocorreu a cirurgia com este médico, que foi um anjo em minha vida. A cirurgia ficou tão perfeita que até os médicos oncologistas ficaram abismados quando souberam que não era prótese.
Meu mastologista foi um dos desenvolvedores deste tipo de cirurgia que se chama “retalho lobular” (está na revista brasileira de cirurgia plástica) e fiquei extremamente feliz com o resultado.
Antes de adormecer na mesa de cirurgia, falei com DEUS: “Pai, que antes das mãos destes profissionais, venham as Suas. Capacite-os para que tudo ocorra bem conforme a Sua vontade. Amém!”
Quando acordei, meu marido e minha família estavam em festa! A cirurgia fora um sucesso!
Fiquei 15 dias com um dreno e realizando medições para saber quando o mesmo poderia ser retirado. Numa próxima visita ao médico, o resultado da biópsia deu “negativo” e comemoramos mais uma vitória. Eu estava livre, contudo ainda teria de me submeter à radioterapia.
Fiz as 30 sessões de radioterapia e graças a DEUS, ocorreu tudo bem! Não queimou nada como muitos falavam e nem abriu feridas! Ficou um pouquinho bronzeado.
Meus cabelos cresceram bem pretos e lisos, como eram antes. Mas eu os mantenho curtos porque gostei do novo visual (risos).
Retomei as minhas atividades no trabalho e me sinto renovada! Para falar a verdade, sinto-me como tivesse dormido durante todo este tempo e acordado curada. Sempre confiei que DEUS faria a parte dele e Ele foi fiel!
O câncer foi um “presente” (de grego, mas um “presente”), pois através dele a família ficou ainda mais unida, os amigos se achegaram ainda mais e eu passei a olhar a vida sob um outro prisma, valorizando o fôlego de vida, a cada dia que me levantava com saúde, e deixei de lado a reclamação.
O passado não volta, o futuro a DEUS pertence e o presente deve ser vivido intensamente, como se cada segundo fosse o mais precioso.
Hoje me sinto ainda mais forte, com novas células, cabelos novos e fé renovada. Posso demonstrar às pessoas que estão passando por este tratamento que é possível vencer, se reerguer e acreditar!
Agradeço a DEUS por esse milagre, ao meu marido Júlio e a todos os meus familiares e amigos que me acompanharam nessa luta. Um beijo no coração de cada um!
Joana D’Arc Thibau