Relacionamentos e Expectativas
“Me decepcionei muito com a Lúcia. Nunca pensei que ela fosse capaz de me tratar assim.”
“ Pensei que a Milene fosse mais calma e compreensiva. Ela falou comigo de um jeito que eu não esperava.”
“Sei que vou conseguir mudar meu namorado. Gosto muito dele e vamos nos dar muito bem se nos casarmos”.
“Quero que meu filho seja advogado. Acho que é a profissão ideal para ele”.
Você já observou como criamos expectativas a respeito das pessoas com as quais nos relacionamos no dia a dia? Talvez alguma dessas frases lhe pareça familiar. Quem sabe já ouviu ou até falou algo semelhante.
É frequente que, mesmo sem perceber, criemos, em pensamentos, uma imagem das pessoas que não corresponde ao que elas são na realidade. Projetamos nessa imagem aquilo que desejamos e, muitas vezes, nos vemos frustrados. Talvez tais pessoas nem saibam o que realmente esperamos delas. E quanto mais criamos tais expectativas, mais nos decepcionamos.
E por que nos decepcionamos? Porque interagimos com os outros esperando que eles correspondam ao que está em nosso coração. Esperamos que as pessoas sejam como gostaríamos e não como elas são de verdade. Esperamos que façam o que desejamos e não o que elas querem ou podem fazer por nós. E diante das expectativas não realizadas, emburramos, falamos mal, nos afastamos.
Nos relacionamentos de amizade esperamos que nos convidem para a festa de aniversário ou o jantar; a esposa espera que o marido se lembre sempre da data em que se viram pela primeira vez; o marido espera que a esposa esteja sempre bem-humorada, magra e bem vestida; pais esperam que os filhos tenham a profissão que os agrade. Claro que desejamos sempre o melhor para nossos filhos. Mas muitas das nossas expectativas em relação aos outros são visando o nosso bem-estar e satisfação, e não necessariamente daqueles que estão ao nosso redor. Queremos que o outro seja aquilo que imaginamos para que nossa vida seja mais fácil ou divertida.
Cada um é o que é, e não necessariamente o que esperamos. E é desta forma que devemos nos relacionar uns com os outros: pautados na realidade e não em nossa imaginação. Não adianta exigir das pessoas aquilo que elas não nos prometeram. A responsabilidade pelo que está em nossa imaginação e expectativas é somente nossa.
Da mesma forma, devemos ter a coragem de sermos íntegros diante dos outros. Quanto mais tentamos nos ajustar aos desejos de nossos amigos, pais, irmãos, amigos, mais nos perdemos de nós mesmos. Assim como criar expectativas, viver tentando corresponder aos desejos dos outros também não é adequado.
Nos relacionamentos, os ajustes entre o que desejamos e o que é real é uma constante. Em vez de construir imagens irreais dos outros, podemos apenas delimitar o que podemos ou não aceitar das pessoas com as quais convivemos. Assim, evitaremos abusos e sofrimento desnecessário. Porém, devemos nos lembrar a todo momento que, assim como nós, nossos amigos e familiares também são imperfeitos em suas ações, reações, pensamentos, e, consequentemente, na forma como nos relacionamos. Relacionamentos imperfeitos são a realidade, e podemos aprender uns com os outros a sermos melhores a cada dia, a crescer com nossos erros, a ouvir opiniões contrárias às nossas, a falar a verdade sempre…
Olhar para nós mesmos e para os outros sem expectativas irreais evita muitos conflitos, traz menos sofrimento, e nos permite viver com mais liberdade.
“O ímpio, com sua boca, destrói o próximo, mas os justos encontram a liberdade por meio do real conhecimento” (Provérbios 11.9).